Dira Paes. O Cauã é um bailarino. Fizemos um pas de deux. Ele me puxava, me jogava... Rolou um balé mesmo. E rolaram surpresas. Teve uma cena em que eu dei o rosto para ele me dar um beijo e ele me deu um tapa na cara. Abaixei a cabeça para pensar no que eu ia fazer depois daquele tapa. Levantei com um sorriso, uma safadeza. Foi maravilhoso trabalhar com o Cauã.
Você gosta de fazer cenas tão fortes? Não encaro como cenas fortes. Encaro como cenas. Se você coloca um peso, não rola. Já é um trabalho que exige desprendimento e tal. Parece blasé, mas não é. Eu poupo a minha energia. Energia eu tenho que ter na hora. Não dá para ir para uma cena com medo dela.
Não foi a primeira vez que você fez cenas assim. Não, já fiz cenas muito contundentes em filmes como Amarelo manga, Baixio das bestas. Quem conhece o cinema do Cláudio Assis sabe que já fiz coisas bem além. As pessoas têm tabu com o nu. O nu de uma atriz é, entre aspas, angelical. Você acha estranho anjo nu?
Como assim? Não era a Dira que estava ali. Era a Celeste. Sou totalmente diferente dela.
Você fez muitos papéis marcantes na sua carreira. Mas este colocou você num lugar especial, no lugar da grande atriz. Estou enganada? Eu vim da Lucimar, de Salve Jorge [personagem que era mãe da protagonista, vivida por Nanda Costa], que fez bastante sucesso também. Foi um personagem que eu preparei com o maior amor. Conheço as mães que eu estava representando. Todas as comunidades são feitas dessas mães. Mas eu acho que a Celeste rompeu a barreira dos personagens populares que ficaram na memória do grande público. Eu não estava com o cabelo totalmente diferente. Não estava superproduzida. Mesmo assim o público leu a personagem como ele era: uma mulher rica. Comprou. Aceitou. Isso foi o trunfo da Celeste para mim.
O teste da atriz Dira Paes, independente do tipo físico. É. E também acho que a Celeste fez sucesso porque era a mulher atrás dos seus desejos. A mulher que quer o casamento e quer a aventura sexual. A mulher que quer se entender dentro dessa nova organização, onde as questões de gênero estão ficando ultrapassadas. A Celeste faz parte da discussão da mulher contemporânea. Uma mulher indo atrás do perigo, indo atrás do sexo.
Você se acha sexy? Acho que sou sexy, sim. Naturalmente. Não faço esforço para isso. Tenho essa coisa da cabrocha. Olhos amendoados, zigomas salientes, como me disse uma vez um amigo poeta. Sabe o que é zigoma? Essa protuberância das bochechas, minha filha.
"A Celeste fez sucesso porque era a mulher atrás de seus desejos. Do perigo, do sexo"
Você nasceu em Belém? Eu nasci em Abaetetuba, que é a terra de onde vem a minha família. Traduzindo quer dizer terra de homem forte. Foi um nascimento atípico. Sou o sexto parto da minha mãe. Ela estava grávida de oito meses, já morava em Belém, e foi visitar a minha avó. Era um sábado quando começou a sentir as dores. Meu pai saiu correndo atrás da parteira.
Parteira? Parteira, claro. Ter filho não era um problema para as mulheres. Antigamente era normal parir, acredite se quiser. Hoje que virou anormal. Enfim... Meu pai saiu. Minha mãe, que no sexto filho já sabia das coisas, entendeu logo que não ia dar tempo. Pediu, então, para a minha prima de 16 anos, Fátima, bem assim: “Tu recebes o meu filho?”.
Que lindo, poético. Não é? Minha mãe falou para a minha prima: “Se vier cabelinho, está tudo bem. Se vier pezinho, temos problema”. Mamãe fez força e a Fátima fez uma cara de espanto, de susto. “É pezinho?”, minha mãe perguntou assustada. Fátima respondeu: “Não, é cabelinho”.
Em que dia você nasceu? 30 de junho de 1968. Não sei meu ascendente porque nem minha mãe nem minha prima sabem a que horas eu nasci.
Cá entre nós,ela não é uma das atrizes mais lindas e divas da atualidade??
E viva a Dira,Viva a Mulher brasileira em suas milhares de facetas!
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